O cardeal dom Raymundo Damasceno Assis,
presidente da CNBB, concedeu entrevista ao jornal "O Estado de São
Paulo", na sexta-feira, 14 de setembro, na qual afirmou que "A Igreja
não pode ter pretensões de poder". O jornal considerou as palavras do
cardeal no contexto das discussões sobre participação política de
igrejas na campanha eleitoral para a prefeitura de São Paulo (SP).
Leia, na íntegra, matéria
assinada por Roldão Arruda, publicada neste sábado, 15 de setembro, no
jornal "O estado de São Paulo":
As declarações do presidente da CNBB e
arcebispo de Aparecida ocorrem um dia após a divulgação de uma nota da
Arquidiocese de São Paulo com ataques ao PRB, partido de Celso
Russomanno, líder nas pesquisas.
O texto, redigido a pedido do arcebispo
d. Odilo Scherer, acusa diretamente o presidente do partido e
coordenador da campanha de Russomanno, Marcos Pereira, pastor licenciado
da Igreja Universal do Reino de Deus. Diz que ele, em artigo publicado
em maio de 2011, fomentou a discórdia e fez críticas destemperadas aos
católicos – texto publicado no blog de Pereira vinculava a Igreja
Católica ao chamado "kit gay", material que se propunha a combater a
homofobia. "Se já fomentam a discórdia, ataques e ofensas sem o poder, o
que esperar se o conquistarem pelo voto?", disse a nota da Arquidiocese
de São Paulo.
Apesar de ter sido publicado há um ano e
meio, o artigo do presidente do PRB voltou a circular nas redes sociais
depois que um usuário falso no Twitter passou a enviá-lo várias vezes
ao dia a padres e ao perfil do próprio arcebispo. A página falsa foi
criada no dia 10 e só publicou mensagens sobre o texto de Pereira.
Na sexta, ao comentar a mistura entre
religião e política na campanha eleitoral de São Paulo, d. Raymundo foi
enfático: "A posição da Igreja Católica, enquanto instituição, é de que
não deve assumir nenhuma posição político-partidária. O papa Bento 16,
numa de suas encíclicas, Deus É Amor, foi muito claro ao dizer que a
Igreja não pode nem deve tomar nas suas mãos a batalha política. Isso é
próprio dos políticos, dos leigos. A Igreja não pode ter pretensões de
poder."
Indagado se tal posicionamento deveria
valer para outras igrejas, respondeu: "Dentro da minha perspectiva,
valeria. No mundo democrático, o papel que cabe ao Estado e aos leigos
não é o mesmo da igreja, cuja função é de orientar o eleitor." Ainda
segundo o líder da CNBB, "não cabe à igreja assumir papel de
protagonista no campo político".
D. Raymundo contou que, assim como
líderes evangélicos, também é procurado por políticos de diferentes
partidos e que essas visitas são mais frequentes nos períodos de
eleições para governador e presidente.
"Sempre o fazem de maneira discreta, sem
fotógrafos, nem assessores de imprensa", disse. "Vêm para dialogar e
mostrar seus projetos. Eu sempre digo que podem contar com o meu apoio
em tudo aquilo que diz respeito ao bem da cidade e da população,
independentemente de seu partido. Não podemos instrumentalizar a
religião para angariar votos, evidentemente."
O presidente da CNBB não quis comentar
diretamente a nota divulgada pela Arquidiocese de São Paulo, alegando
que não havia tido acesso à sua íntegra.
Acompanhamento
D. Raymundo disse que a Igreja acompanha
o processo eleitoral em todo o País, com orientações para o voto
consciente e estímulos aos leigos que desejam participar como candidato.
"A Igreja estimula, apoia, vê com bons olhos o leigo que se sente
chamado para a política", afirmou. "Queremos que ele não tenha medo de
assumir posições político-partidárias. Isso é fundamental, porque a
sociedade justa vai ser resultado da ação de homens políticos, homens
públicos. Eles é que devem trabalhar para uma sociedade mais solidária."
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