16 de agosto de 2012

Na semana em que um homem entrou na Igreja de São Francisco e quebrou a imagem do padroeiro...

Imagem de São Francisco parcialmente destruída.
Esssa semana a notícia de que um jovem entrou na matriz de São Francisco das Chagas, denominando-se "anjo de luz" e "enviado" de Deus para que nas igrejas não existissem mais imagens e velas chocou os católicos de Bacabal. 

Hoje sabemos que o jovem tem problemas mentais... Mesmo assim, é necessário que reflitamos tal fato, já que o mesmo era imbuído de sentimento contrário ao uso de imagens de santos, sentimento compartilhado pela maioria dos evangélicos... Entrando na igreja, tentou agredir Frei Cláudio Santos, que celebrava naquele momento, e quebrou a imagem de São Francisco das Chagas. 

Publico para nossa reflexão um texto sobre o tema. Seria interessante que os católicos que acessam ao blog da Paróquia lessem com atenção, até para que entendam de fato a doutrina católica sobre essa questão:

Nenhum católico adora os santos, mas os respeita e venera como amigos de Deus. Este respeito e veneração vêm da fé na ressurreição, pois os que morrem no Senhor estão com Ele. Vêm da fé na “comunhão dos santos”: os santos intercedem por nós diante de Deus. A Bíblia nos mostra que Deus opera milagres pela intercessão dos santos. Um exemplo é a cura do coxo de nascença, operada por São Pedro e São João, junto à porta do Templo: “Não tenho nem ouro nem prata, mas o que tenho isto te dou. Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda” (Atos 3,1-9). E a Bíblia apresenta outros inúmeros exemplos afirmando que “Deus fazia não poucos prodígios por meio de Paulo” (Atos 19,11-12). Jesus é nosso único mediador entre Deus e os homens, e Ele disse: ”O Pai dará a vocês tudo o que pedirdes em meu nome” (João 15,16).

Um santo só opera em nome de Jesus, porque só em Jesus está a fonte da graça e a força de Deus. Os santos não estão em oposição ao Senhor. Ao contrário, colocam em evidência a glória e santidade de Jesus Cristo, cabeça da Igreja e nosso único salvador. Pois foi Jesus mesmo quem afirmou: ”Eu garanto a vocês: quem crê em mim, fará as obras que eu faço, e fará maiores do que estas, porque eu vou para o Pai” (João 14,12). Ninguém pode ser santificado, sem entregar sua vida por Jesus e pelos irmãos. Honrar um santo significa reconhecer a força transformadora da Palavra de Deus, que santifica quem a aceita e a coloca em prática.

O santo é para os cristãos um exemplo de quem testemunhou sua fé no seguimento de Jesus. Nós, católicos, temos a alegria de abrir nosso álbum de família – a nossa família na fé – e contemplarmos uma fileira de heróis na fé, os santos, nossos irmãos e amigos, que conseguiram servir a Deus com fidelidade e, junto de Deus, pedem por nós. Santos e santas, rogai a Deus por nós!

Entre os santos de Deus está, em primeiro lugar, Maria, a mãe de Jesus (Mateus 2,1; Marcos 3,32; Lucas 2,48; João 19,25).

Imagens e Idolatria

Muitos se perguntam: os católicos adoram imagens? A resposta é: NÃO! Nunca as adoraram, sempre as valorizaram. As imagens valem o que vale uma foto; ela pode estar gasta, mas recorda um ente querido. Os católicos não adoram imagens; somente as utilizam para lembrar de alguém que é maior, e a isso se chama de veneração e NÃO de adoração. O sentido das imagens católicas está na linha da serpente de bronze que Deus mandou Moisés esculpir (Números 21,8-9), segundo a explicação dada em Sabedoria 16,7: ”e quem se voltava para ele (o sinal da serpente), era salvo, não em virtude do que via, mas graças a Ti, ó Salvador de todos”.

a) Imagens permitidas na Bíblia:

A Bíblia apresenta, muitas vezes, o mistério de Deus através de imagens: e a primeira imagem quem a fez foi o próprio Deus, ao criar o ser humano à sua imagem e semelhança (Gênesis 1,27;2,7). O mesmo Deus manda Moisés fazer dois querubins de ouro e colocá-los por cima da Arca da Aliança (Êxodo 25,18-20). Manda Salomão enfeitar o templo de Jerusalém com imagens de querubins, palmas, flores, bois e leões (1Reis 6,23-25 e 7,29). O Novo Testamento também apresenta o mistério de Deus através de imagens: a imagem de Jesus como cordeiro digno de receber a força e o louvor (Apocalipse 5,12). Quando do batismo de Jesus, o Espírito Santo é apresentado em forma de pomba (Mateus 3,16) e, no dia de Pentecostes, com línguas de fogo (Atos 2,1-3).
O Bom Pastor na cripta de Lucina na
catacumba de São Calixto
Jesus ensinava através de imagens: “Eu sou o bom pastor” (João 10,14). Os primeiros cristãos vão representar Jesus desenhando um Bom Pastor com a ovelha nos ombros. Olhando esta imagem, eles não adoravam um pastor, mas pensavam na ternura de Deus que, em Jesus, busca a ovelha perdida. Representar algo por imagem ou símbolo era comum na Igreja primitiva, sobretudo em tempos de perseguição. Por muito tempo, as pinturas dos santos e de cenas bíblicas nas Igrejas foram o único livro que os cristãos mais simples puderam ler e entender.

b) Imagens proibidas na Bíblia, idolatria:

A Bíblia, então, não proíbe as imagens? Sim, proíbe quando sua finalidade é servir à idolatria: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te fez sair do Egito, da casa da escuridão. Não terás outros deuses diante de minha face. Não farás para ti escultura alguma do que está em cima dos céus, ou abaixo sobre a terra, ou nas águas, debaixo da terra. Não te prostrarás diante deles e não lhes prestarás culto” (Êxodo 20,2-5). Em várias passagens bíblicas se repete esta proibição de não adorar outros deuses e nem fazer deuses fundidos (Êxodo 34,14-17; Deuteronômio 7,5).

Podemos perceber que "ídolo" designa imagem feita para ser adorada como deus, como faziam os pagãos com suas divindades. Para os judeus, as imagens dos deuses são os próprios deuses pagãos. Os povos vizinhos dos judeus acreditavam em muitos deuses e faziam imagens deles. Geralmente, estes deuses, criados pelo próprio homem, serviam de apoio ao sistema injusto e cruel que maltratava o povo, em especial os pobres. Em Israel não se podia fazer imagem de Deus, não se podia imaginar como Deus era, pois Ele é invisível e ninguém nunca o tinha visto. Do Deus verdadeiro não se faz imagens, porque todas as imagens são inadequadas para Javé. Dos falsos deuses se faziam imagens que eram chamadas de ídolos; eram rivais de Javé. Idolatria é a exclusão do Deus verdadeiro, substituindo-o por um falso deus.

O ídolo estava sempre ligado a um sistema de corrupção e opressão, levando a sociedade à divisão e à guerra por causa da ganância pela terra, bens materiais e dinheiro, fama, prazer e poder. Estes, sim, são os verdadeiros ídolos que afastam a pessoa do Deus verdadeiro, competindo com Ele no coração (cf. Mateus 4,1-10; Lucas 4,1-12).

Portanto: Deus parece, mas não é incoerente, já que num lugar da Bíblia manda fazer imagens e noutro lugar o teria proibido. A imagem, hoje, mais do que nunca, faz parte da linguagem humana e é representação de pessoa, coisa, ideia. A Bíblia fala de imagens algumas vezes para denunciar a idolatria, outras vezes para mostrar o quanto a imagem é necessária para entendermos, por meio do Filho, o próprio Pai: “Ele (Jesus) é a imagem do Deus invisível...” (Colossenses 1,15).

Os primeiros cristãos, martirizados aos milhares porque se recusaram a adorar imagens de deuses falsos, estudaram a Bíblia com atenção. Eles não tiravam esses textos que proíbem imagens de seu contexto. Comparando-os com outros textos bíblicos, ficaram convencidos de que Deus proíbe imagens de deuses falsos, adoração de ídolos que representem falsos valores, os quais induzem ao pecado. É o que faziam os povos vizinhos de Israel. Mas Deus não proíbe fazer outras imagens que contribuem para exaltar sua glória e poder. O II Concilio de Nicéia, no ano 787, defende a veneração das imagens (pintura e escultura) de santos pelos cristãos e o uso de símbolos nas celebrações litúrgicas. O mesmo fez o Concilio Vaticano II, mantendo o culto às imagens conforme a tradição (LG 67), contanto que seja em número comedido e na ordem devida (SC 125).

Texto: Cônego Pedro Carlos Cipolini - Doutor em Teologia (Mariologia); professor titular da PUC–Campinas; membro da Academia Marial de Aparecida

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