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As Pastorais Sociais do Regional
Nordeste 5 da CNBB (Maranhão) divulgaram um documento, intitulado “Carta
Aberta ao Povo do Maranhão – Eleições 2012”, na qual o bispo de Viana
(MA) e referencial das Pastorais Sociais no Regional, dom Sebastião Lima
Duarte, faz uma reflexão a respeito do atual momento eleitoral, em
vista da chegada das eleições municipais, em outubro próximo.
Leia abaixo a íntegra da mensagem das Pastorais Sociais do Regional Nordeste 5:
Regional Nordeste 5 da CNBB – Pastorais Sociais "Carta aberta ao Povo do Maranhão - Eleições 2012"
Caríssimos irmãos e irmãs, saudações em
Cristo Jesus Libertador! Dentre as bem-aventuranças o Senhor fez questão
de colocar a felicidade, que nos vem pela ‘fome e sede de justiça’,
assim como pela ‘promoção da paz’ que atraem sobre todos, saciedade e
filiação divina (cf.: Mt 5, 6.9). Tendo em vista o momento
político-eleitoral que vivemos, as Pastorais Sociais do Regional
Nordeste 5, vem a público trazer uma reflexão que ajude na tomada de
consciência da responsabilidade de cidadãos cristãos, com o futuro das
administrações e vereanças no Estado do Maranhão.
Não haveremos de estranhar que a nossa
fé nos leve a assumir atitudes em defesa do bem comum, da justiça e do
direito, mesmo em se tratando de política, pois o Papa Paulo VI já dizia
que “a política é uma maneira exigente – se bem que não seja a única -
de viver o compromisso cristão, ao serviço dos outros” (Octogesima
adveniens, 46). O Papa Bento XVI diz que “A Igreja não pode nem deve
tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a
sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do
Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela
justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve
despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça, que sempre
requer renúncias também, não poderá afirmar-se nem prosperar. (...) Mas
toca à Igreja, e profundamente, o empenhar-se pela justiça trabalhando
para a abertura da inteligência e da vontade às exigências do bem. (Deus
caritas est, 28). Os bispos do Brasil, dizem: “Incentive-se cada vez
mais a participação social e política dos cristãos leigos e leigas nos
diversos níveis e instituições...” e “como cidadãos cristãos, cabe nos
empenharmos na busca de políticas públicas que ofereçam as condições
necessárias ao bem-estar de pessoas, famílias e povos” (DGAE, 115 e
116).
A nossa contribuição para que as
eleições se caracterizem como uso da liberdade de escolha feito pelo
povo, sem manipulações, se deu pela formação da consciência crítica
diante da realidade, pelo incentivo às organizações sociais e pela
participação efetiva em Conselhos e mecanismos de transparência e
controle social. Contudo, um marco importante foi a Lei 9.840/1999, de
iniciativa popular, onde o apoio da Igreja foi necessário para sua
realização. Diz a referida Lei contra Corrupção Eleitoral: “...constitui
captação de sufrágio, vedada por esta lei, o candidato doar, oferecer,
prometer, ou entregar, ao eleitor, com o fim de obter-lhe o voto, bem ou
vantagem pessoal de qualquer natureza, inclusive emprego ou função
pública, desde o registro da candidatura até o dia da eleição,
inclusive, sob pena de multa de 1.000 a 50.000 UFIRs, e cassação do
registro ou do diploma...”. A denúncia desses crimes é papel da
sociedade organizada ou de cada cidadão ou cidadã, que devem encontrar
na promotoria e na justiça eleitoral, a força do cumprimento da Lei,
apesar de ser notório no período eleitoral, os movimentos da justiça no
que tange à transferência de juízes e promotores de várias comarcas do
Maranhão e isso nos inquieta por não sabermos as razões, se por
necessidade ou conveniência de forças ocultas.
A corrupção não é de nossos dias
somente, assim como os enfrentamentos não são só dos nossos tempos. O
profeta Amós já dizia: “Porque vendem o justo por prata e o indigente
por um par de sandálias” (Am 2,6) e ainda “Ouvi isto, vós que esmagais o
indigente e quereis eliminar os pobres da terra, vós que dizeis:
‘Quando passará a lua nova...para comprarmos o fraco com prata e o
indigente por um par de sandálias’...” (Am 8,4-6). Também hoje se faz
necessário levantar a voz, em praça pública em bom som e na imprensa
escrita, falada, televisionada e virtual contra a compra e a venda de
voto e o uso da maquina administrativa nos municípios em favor de
aliados, inclusive através do uso, e por vezes da coerção, de
funcionários públicos para fazerem campanha em favor de candidatos,
desequilibrando o embate político. Demos um basta à corrupção eleitoral.
Pois voto não tem preço tem conseqüência. Não sejamos filhos da
precisão, mas da promissão do voto consciente e da dignidade da vida, da
moralidade pública e do bem comum.
A Lei da Ficha Limpa ou Lei Complementar
135/2010 está ajudando na idoneidade dos candidatos, pois “proíbe que
políticos condenados em decisões colegiadas de segunda instância possam
se candidatar”, afugentando da gestão pública e do poder de legislar
quem cometeu ato de improbidade administrativa. Mas, cabe-nos a
responsabilidade de contribuirmos ainda mais com as nossas lutas
evitando votar em pessoas que praticam o Trabalho Escravo em suas
propriedades, os que se dizem proprietários de grande quantidade de
terras e impedem a Reforma Agrária e ainda mais se apropriam das terras
dos Nabotes de hoje (cf.: 2Rs 21,1-24), as pessoas apoiadas pelas
grandes empresas e empreendimentos voltados para o agronegócio, e grupos
políticos que só pensam em si mesmos. Assim como não preferir os que já
demonstraram não ter compromissos com os Quilombolas, com a preservação
do meio ambiente, com os povos Indígenas, com os pescadores e
lavradores, com a educação e ocupação juvenil, com a saúde e a
assistência social; bem como saneamento básico, segurança e superação da
violência e das drogas.
Para construirmos a sociedade que
queremos, a 5ª Semana Social Brasileira que viveremos no ano que vem, já
nos dá indicação a partir de seu tema: “Um novo Estado, caminho para
uma nova sociedade do bem viver”. É bom que nos demos conta, que as
eleições municipais deste ano norteiam as eleições de 2014. Por isso, é
muito importante percebermos as alianças, as forças políticas e os
políticos que se apresentam como candidatos, e descobrirmos a quem estão
ligados e quem os apóiam, quem está no palanque hoje para serem
apoiados amanhã, atrelando e assumindo compromissos, fazendo do povo
noiva prometida em casamento. Não nos deixemos amarrar pelos que querem
se perpetuar no poder de qualquer jeito. Defendamos nossa liberdade de
escolha e agucemos nossa capacidade crítica de antever os conchavos para
as próximas eleições.
Na construção do Novo Estado é de suma
importância passarmos da democracia representativa para a participativa,
onde não simplesmente elegemos pessoas e delegamos a elas nosso poder
(cracia) de povo (demo), para nos representarem, mas continuemos
participando do mandato através de conselhos e da presença ativa nas
sessões das Câmaras de Vereadores(as), assim como no planejamento e na
execução de ações do Executivo, na linha do controle e da transparência.
Deve ser do nosso interesse saber quanto entra na Prefeitura, como é
aplicado o dinheiro público e fazer questão de conferir as prestações de
contas que deverão ser expostas para controle da população. O
orçamento participativo é uma forma ousada de participação cidadã, onde
as pessoas tomam parte nas decisões vinculadas à administração do
município, podendo exigir atitudes diante dos problemas em prol do bem
comum.
Aos candidatos e partidários, cabos
eleitorais, advertimos que não façam deste período eleitoral tempo de
rivalidades e de ódio, nem ofendam a dignidade das pessoas, nem abusem
dos horários de propaganda, respeitando o silêncio, até mesmo o sono
reparador que todos têm direito, mas que os embates sejam a nível de
idéias e propostas, que ajudem na compreensão por parte dos eleitores
das verdadeiras intenções e compromissos de candidatos. Aos eleitores
terminamos dizendo que voto consciente, faz votar diferente e que o
sonho coletivo do bem comum, fica cada vez mais perto da gente. O
momento político impõe sobre nós grandes responsabilidades sobre o
destino de nossos municípios. Portanto, irmãos e irmãs, continuemos no
discernimento rumo às eleições e não deleguemos a ninguém nossa
capacidade de escolha, nem nos deixemos condicionar por falsas promessas
ou por opiniões depreciativas sobre candidatos. Contribuamos com muita
consciência, provocando reflexão em grupo, em casa, no ambiente de
trabalho, respeitando as opiniões e clareando nosso horizonte de
escolha. Boas eleições!
Julho de 2012 – Por ocasião do Curso de Doutrina Social da Igreja – I Etapa
Dom Sebastião Lima Duarte
Bispo de Viana e Referencial das Pastorais Sociais
Bispo de Viana e Referencial das Pastorais Sociais
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