Dei-vos um exemplo para que, como eu vos fiz, também vós façais. Em verdade, em verdade vos digo: não há servo maior do que o seu senhor, nem apóstolo maior do que quem o enviou. Se compreenderdes isso, sereis felizes se o praticardes" (Jo 13,15-17). Estas instruções de Jesus aos discípulos explicam e concluem a cena do "lava-pés". Mediante este gesto profundamente significativo, o evangelista quer mostrar a seus leitores uma dupla dimensão: de um lado, Jesus realiza a sua missão de "enviado do Pai", assumindo uma atitude de serviço gratuito e sem limites, do outro lado, é preciso que a comunidade saiba que a mesma atitude de gratuidade é necessária para caracterizar a sua missão em relação ao mundo.
Com esse gesto, Jesus antecipa a doação total de si, que terá o seu ponto culminante na Cruz. Nesse contexto, Jesus dá um "exemplo" significativo e muito importante: trata-se de uma "demonstração prática" com a clara finalidade de que a mesma dimensão seja realizada concretamente pelos discípulos. É preciso notar que não é importante somente "o que" os discípulos devem fazer, mas também "como" tudo isso deve ser feito. Em outros termos, o serviço gratuito de Jesus constitui o alicerce da comunidade e, ao mesmo tempo, indica que a gratuidade é uma "qualidade" necessária para a missão dos discípulos no mundo: "Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros" (13, 34b).
De fato, o Senhor age na comunidade na qualidade de "servo", para mostrar (sem impor) que os discípulos devem agir do mesmo jeito. Assim, o "exemplo" de Jesus não é pura e simplesmente um "modelo" a ser imitado, mas é um dom absolutamente gratuito que funda e determina o comportamento e a missão dos discípulos. É bom lembrar que, nos Evangelhos, Jesus chama os discípulos para "ser seguido" e não para ser imitado! Ora, a missão dos discípulos não consiste em reproduzir materialmente o gesto do "lava-pés", mas na disponibilidade fundamental e efetiva de estar a serviço uns dos outros. Trata-se de uma atitude radical de gratuidade que deve estar isenta de qualquer limitação ou vontade de poder.
Para eliminar qualquer ambigüidade, o evangelista cita um provérbio muito conhecido (Mt 10, 25; Lc 6, 40) mostrando que a missão de Jesus e a dos discípulos se identificam, mas as situações permanecem diferentes: "não há servo maior do que o seu senhor". Para Mateus e Lucas, o servo pode ou deve ser semelhante ("como") ao seu senhor, mas isso não quer dizer "igual". De fato, o Senhor age na qualidade de "servo", mas permanece Senhor. Do outro lado, o servo/apóstolo deve agir "como" o seu Senhor/quem envia, mas permanecendo servo! A posição é diferente, mas é significativo que o "apóstolo" expresse e participe da mesma dignidade de quem o envia.
No entanto, é bom notar que a exortação se transforma em "bem-aventurança", sob uma condição: "tomar consciência" não só da gratuidade da missão de Jesus, mas também de sua "qualidade". Sem isso, a fidelidade do discípulo ao seu Senhor é ilusória e a missão no mundo sem sentido. Nenhuma missão se fundamenta na prática de uma lei ou na pura e simples execução de ordens, mas toda missão tem sua origem a partir de relações gratuitas entre: "quem envia", o "apóstolo/enviado" ("como o Pai me enviou, também eu vos envio": Pai+Jesus >Jesus+discípulos: Jo 20, 21) e o "destinatário" ("Deus amou tanto o mundo...": Jo 3, 16).
Assim, a missão de Jesus, que exprime e revela o amor do Pai, encontra a sua continuidade exatamente "nos pés" dos seus missionários que percorrem os caminhos do mundo para levar adiante o mesmo serviço. A experiência de tudo isso numa comunidade fraterna torna-se fonte inesgotável de "felicidade".
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