“Quanto àquele dia e àquela
hora, ninguém os conhece, nem mesmo os anjos do céu, nem mesmo o Filho,
mas, sim, o Pai só”. Mc 13,32
Recebo vários emails de pessoas
católicas apavoradas e que ainda perguntam sobre a “Profecia” sobre o
“fim do mundo” em 21/12/2012, o que gera um alarmismo danoso e um
verdadeiro terrorismo espiritual. Será que estaríamos nas vésperas do
fim do mundo? São muitas “profecias” falsas, que tentam até misturar
argumentos pseudocientíficos com superstições, Nova Era e ficção
científica. Até mesmo o Terceiro Segredo de Fátima, que nada tem a ver
com o fim do mundo, e que o Papa João Paulo II já revelou em 2000 em
Fátima; é citado abusivamente. Os divulgadores desse fim do mundo para o
dia 21/12/2012 usam “argumentos científicos”, falam de Profecias maias
que até a NASA já desmentiu. Ninguém sabe a época e a data do fim do
mundo, ou melhor, da renovação do mundo.
Jesus fala em fim do mundo como
“renovação do mundo”: Mt 19,28 – “No dia da renovação do mundo, quando o
Filho do homem estiver sentado no trono da glória…”
Com relação à data em que acontecerá a
renovação do mundo e a inauguração definitiva do Reino de Deus, ninguém
sabe e não deve especular a respeito. Muitos já se enganaram sobre isto e
levaram muitos outros ao engano e ao desespero. Até grandes santos da
Igreja erraram neste ponto. Podemos citar alguns exemplos:
Dom Estevão Bettencourt, em um de seus
livros (Curso de Escatologia – págs. 123 – 124), afirma que: São
Hipólito de Roma (†235) – chegou a afirmar que o final do mundo seria no
ano 500… Santo Irineu (†202) – confirmava a tese do Pseudo Barnabé, de
que o final seria no ano 6000 após a criação do mundo… Santo Ambrósio
(†397) e Santo Hilário de Poitres (†367) – apoiaram a mesma tese
anterior. São Gaudêncio de Bréscia (†405) – indicava o ano 7000 após a
criação.
No século V, com a queda de Roma (476),
São Jeronimo (†420), São João Crisóstomo (†407), São Leão Magno (†461),
defendiam que face à queda de Roma, o fim do mundo estava próximo… No
século VI e VII, São Gregório Magno (†604) afirmava como próxima a vinda
de Cristo…
Muitas vezes as profecias sobre a vinda
de Cristo iminente são sugeridas pela necessidade que temos de encontrar
uma “saída” para os tempos difíceis em que se vive. Por isso, a Igreja é
muito cautelosa nesse ponto, e sempre nos lembra:
At 1,7 – “Não toca a vós ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por sua própria autoridade”.
Mc 13,32 – “Quanto àquele dia e àquela
hora, ninguém os conhece, nem mesmo os anjos do céu, nem mesmo o Filho,
mas, sim, o Pai só”.
Santo
Agostinho interpreta essa passagem dizendo que Jesus diz não saber esta
data, porque está fora do depósito das verdades que Ele veio revelar
aos homens; não pertence à sua missão de Salvador revelar essa data (In
Ps 36 Migne 36,355). O Magistério da Igreja quer que se respeite essa
vontade de Deus de deixar oculta aos homens essa data.
No Concílio Universal de Latrão V, em
1516, foi decretado: “Mandamos a todos os que estão, ou futuramente
estarão incumbidos da pregação, que de modo nenhum presumam afirmar ou
apregoar determinada época para os males vindouros para a vinda do
Anticristo ou para o dia do juízo. Com efeito a Verdade diz: “Não toca a
vós ter conhecimento dos tempos e momentos que o Pai fixou por Sua
própria autoridade. Consta que os que até hoje ousaram afirmar tais
coisas mentiram, e, por causa deles, não pouco sofreu a autoridade
daqueles que pregam com retidão. Ninguém ouse predizer o futuro apelando
para a Sagrada Escritura, nem afirmar o que quer que seja, como se o
tivesse recebido do Espírito Santo ou de revelação particular, nem ouse
apoiar-se sobre conjecturas vãs ou despropositadas. Cada qual deve,
segundo o preceito divino, pregar o Evangelho a toda a criatura,
aprender a detestar o vício, recomendar e ensinar a prática das
virtudes, a paz e a caridade mútuas, tão recomendadas por nosso
Redentor”.
Em 1318, o Papa João XXII, condenando os
erros dos chamados Fraticelli disse: “Há muitas outras coisas que esses
homens presunçosos descrevem como que em sonho a respeito do curso dos
tempos e do fim do mundo, muitas coisas a respeito da vinda do
Anticristo, que lhes parece estar às portas, e que eles anunciam com
vaidade lamentável. Declaramos que tais coisas são, em parte,
frenéticas, em parte doentias, em parte fabulosas. Por isso nós os
condenamos com os seus autores em vez de as divulgar ou refutar” (idem).
O que a Igreja sabe é o que está no
Catecismo: §670. ”Desde a Ascensão, o desígnio de Deus entrou em sua
consumação. Já estamos na “última hora” (1Jo 2,18)”. “Portanto, a era
final do mundo já chegou para nós, e a renovação do mundo está
irrevogavelmente realizada e, de certo modo, já está antecipada nesta
terra”.
§673. “A partir da Ascensão, o advento
de Cristo na glória é iminente, embora não nos “caiba conhecer os tempos
e os momentos que o Pai fixou com sua própria autoridade” (At 1,7).
Este acontecimento escatológico pode ocorrer a qualquer momento, ainda
que estejam “retidos” tanto ele como a provação final que há de
precedê-lo”.
Prof. Felipe Aquino
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