No dia 25 de maio, os órgãos de imprensa
do Brasil informaram que as contribuições do Partido dos Trabalhadores
aumentaram 353% de 2009 a 2011. Em 2011, elas chegaram a R$ 50,7
milhões, enquanto que as anteriores haviam sido R$ 11,2 milhões em 2009 e
R$ 4,2 milhões em 2007.
Quatro meses após, no dia 20 de
setembro, alarmados pelo grande número de pessoas que, embora se
declarando católicas, deixam de contribuir com o dízimo, os bispos
alemães publicaram um decreto determinando que, quem assim age, perde o
direito de exigir os sacramentos e os serviços prestados pela Igreja.
Como se sabe, há vários séculos, por
influência da Igreja Luterana, ao assumirem um emprego em qualquer
empresa, os alemães comunicam a religião a que pertencem e entregam 8%
de seus rendimentos anuais às Igrejas a que pertencem. Quem se declara
agnóstico ou ateu, fica isento da contribuição. Os católicos representam
30% da população, mas, a partir de 2010 – quando vieram à tona
escândalos sexuais cometidos por alguns eclesiásticos – aproximadamente
180.000 deles se afastaram da Igreja.
Para a Conferência Episcopal Alemã, «não
é possível separar a comunidade espiritual da Igreja institucional». É
impossível manter um relacionamento correto com Deus sem olhar para os
irmãos que caminham ao nosso lado. Não tem sentido a decisão – que não
passa de desculpa – tomada por alguns cristãos, que proclamam: «Cristo,
sim; Igreja, não!».
A todo direito corresponde um dever. A
Igreja é formada por pessoas “santas e pecadoras”, como lembra
seguidamente a liturgia. Para vingar e crescer, ela depende de minha
participação – que não é apenas espiritual, uma questão interna e
pessoal, entre eu e Deus. Se não contribuo pastoral e financeiramente, a
minha adesão à fé é ilusão e demagogia. Quando não passa pela carteira,
o meu amor se assemelha a «sino ruidoso e a címbalo estridente» (1Cor
13,1).
É muito mais cômodo rezar o rosário,
participar de cultos e celebrações, confiar em objetos religiosos, fazer
procissões e romarias, etc., do que devolver o dízimo. «O apego ao
dinheiro é a raiz de todos os males» (1Tm 6,10), e só consegue vencer a
tentação quem encontra em Deus a sua realização, a sua alegria e a sua
«grande recompensa» (Gn 15,1). «Riqueza acumulada é sinal de morte;
riqueza partilhada é sinal de vida», adverte o periódico “Liturgia
Diária”, no comentário que preparou para a missa do último domingo de
setembro.
Evidentemente, isso vale também e
sobretudo para quem recolhe o dízimo. Seria um absurdo e um escândalo se
o líder de uma igreja – bispo, padre ou pastor – aproveitasse da
contribuição de seus fiéis – um dinheiro sagrado, porque fruto do amor e
do sacrifício de quem tem fé – para adquirir o melhor carro da
paróquia, comprar fazendas, transformar sua residência num palácio e
exigir salários de marajá. A finalidade do dízimo é assim delineada pelo
Código de Direito Canônico da Igreja Católica: «Os fiéis têm obrigação
de socorrer às necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do
que é necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de
caridade e para o honesto sustento dos ministros. Devem ainda promover a
justiça social e, lembrados do preceito do Senhor, socorrer os pobres
com as próprias rendas».
Talvez pelos abusos a que o dízimo está
sujeito, sempre houve e continua havendo pessoas que o questionam. Até
São Paulo precisou se defender das críticas que lhe dirigiram alguns
cristãos de Corinto: «Os ministros do culto vivem dos rendimentos do
templo e quem serve ao altar participa do que é oferecido sobre o altar.
O Senhor ordenou que, quem anuncia o Evangelho, viva do Evangelho»
(1Cor 9,13-14).
Em todo o caso, se, nestes últimos anos,
o PT conseguiu aumentar sua arrecadação, é porque há pessoas que
acreditam na validade de seus objetivos. Da mesma forma, o dízimo é um
termômetro que demonstra o grau de satisfação, de acolhida e de comunhão
existente na Igreja, e o melhor caminho, senão único, para que ela
volte a atrair os homens do século XXI, como, aliás, acontecia em seus
primórdios: «Todos os que abraçavam a fé, viviam unidos e possuíam tudo
em comum. E, a cada dia, o Senhor acrescentava à comunidade outras
pessoas que buscavam a salvação» (At 2,44.47).
Dom Redovino Rizzardo
Bispo de Dourados (MS)
Bispo de Dourados (MS)
Fonte: CNBB
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